Dias cinzentos

Hoje acordei, olhei pela janela e senti-me transportada para Manchester, há 12 anos atrás. 

Edifício da Universidade perto de minha casa, em Oxford Road
Em casa senti-me confortável, assim como nos sentimos nas casas inglesas, mas lá fora o dia estava cinzento e ameaçava chuviscar. Foi assim durante todo o tempo em que lá estive, todos os dias acordava com este cinzento do céu, penso que houve sol uma vez. Mas apesar de não haver sol os dias não eram nada tristes, era uma rotina nova, com descobertas diárias.

Quando olhei pela janela voltei a sentir o que sentia quando entrava na biblioteca ou na sala de informática logo pela manhã. Há muito tempo que não me lembrava de alguns destes pormenores... a disposição das mesas, o cheiro da sala, a impressora e a manta de retalhos que todas aquelas pessoas juntas compunham. Pessoas todas diferentes: havia raparigas com véus; rapazes ruivos; louros; pessoas asiáticas e da américa latina. Via-se de tudo, uma manta de retalhos daquelas que dá vontade de ter na nossa sala de tão bem que todos os pedaços de tecido, apesar de diferentes, se conjugam.

Soube bem ir ao baú das minhas memórias e recordar estes momentos de um passado que me parece já tão distante, tão de outra vida!

Klimt

E este é que teria sido um belo ano para voltar a Viena. É o ano em que se comemoram os 150 anos do nascimento de Gustav Klimt. 

Se sem as comemorações nesta cidade parecia já se respirar Klimt por todo o lado, imagino este ano.

O Belvedere apresentou em simultâneo todo o acervo de quadros do artista entre julho e setembro e no Burgtheater e no Museu de Belas-Artes apareceram desenhos praticamente desconhecidos do público, para além de muitas outras iniciativas foi também inaugurado a oeste de Viena o Centro Klimt.

A imagem de Klimt remete-me sempre para alguém com ar de louco, vestido com uma túnica comprida e ainda assim rodeado pelas mulheres mais belas de Viena. Penso que foi mesmo um pouco louco e talvez por isso a sua obra tenha marcado aquela altura tenha chegado até nós com tamanho impacto. Acho fantástica a utilização faz do dourado mas também, numa fase mais sóbria, as suas pinturas de jardins e campos floridos.

Ficam imagens de alguns quadros para se deliciarem!









A hora de dormir

Mãe porque é que às vezes há ovo e não há pintainhos? E como é que o galo e a galinha fazem os pintainhos? Eles casam? E o gato e a gata fazem gatinhos? E o elefante e a elefanta também?! E eles casam como? Como é que eles fazem os bebés? Ah...

E porque é que há muitas casas e muitos países? E porque é que os avós foram a "outro país" chamado Açores? E porque é que eles foram de avião? Porque é que não foram de helicóptero? Mas às vezes as pessoas vão de helicóptero... Mas só quando é mais perto não é?

Mãe... E porque é que existem livros? E revistas? E televisão?

E porque é que nós temos quartos? E camas? E roupa? E ouvidos?

Mãe... Podes ficar aqui mais um bocadinho e fazer-me festinhas das cócegas?!

Mãe! Um beijinho e mais um beijinho para o Francisco que já deve estar a dormir... Mãe... O Francisco está com soluços?

Mãe... Quando eu já estiver a dormir depois vens mais um bocadinho para ao pé de mim?

Ok mãe! Mãe! Até amanhã!

Natal 2011


No ano passado os presentes de Natal foram como se pode ver acima! 

Sacos para as crianças levarem para a ginástica, para a piscina, para o ballet,  para a escola, para casa da avó com o pijama, enfim, para aquilo que desse mais jeito! 

Para as mamãs das crianças fizemos sacos para as compras, que se podem dobrar e meter na mala.

Depois, com botões preparamos uns embrulhos engraçados, com etiquetas personalizadas e já está! Seguiram para debaixo das árvores de Natal.

Infelizmente o meu esforço foi mais na área da conceção e da escolha de materiais do que efetivamente atrás da máquina de costura, que era o que queria inicialmente. Foi no seu todo um trabalho partilhado entre mim e a minha mãe.

A vantagem destes presentes feitos em casa são inúmeras: primeiro cada presente foi personalizado, ou seja fizemo-lo a pensar especificamente "naquela" pessoa;  tendo em conta a "crise", este bicho papão que nos está a consumir o orçamento mensal, conseguimos fazer presentes mais em conta; foi giro retomar as costuras e aprender com a minha mãe e por outro lado criou-se espaço para os trabalhos entre mulheres (consegui juntar na mesma mesa, a trabalhar nos sacos, três gerações, quatro se contarmos com a MR que por ali andava a meter o nariz -  a MR, eu, a minha Mãe, a minha Tia e a minha Avó).

Este ano Ai M - handcrafts está de volta e já temos ideias novas para os presentes de 2012 :)

Verdade e consequência

Sempre que acreditei que deveria saber a verdade, que deveria esmiuçar cada assunto até ao fim e saber a verdade, doesse o que doesse. Nunca me contentava em saber apenas o suficiente.

Mas neste momento e já desde há alguns anos para cá percebi que essa busca incessante pela verdade por vezes pode ser destruidora. Obviamente que não vivo mentiras na minha vida, nem as tolero, mas entendi que em certos e determinados casos a informação que nos chega é suficiente para continuarmos a nossa vida. 

Não precisamos sempre de saber tudo, por vezes saber tudo ao pormenor torna os sentimentos mais intensos e nem sempre isso é desejável. Pode nalguns casos ser reparador, mas aquilo que a experiência me ensinou é que na maioria das vezes é apenas desgastante...

Somos todos diferentes e previsíveis?

Adoro observar as diferentes reações que diferentes pessoas têm perante o mesmo fato. 

Perante um dado adquirido, de relevo ou não, tendencialmente os indivíduos reagem sempre tendo por base a mesma linha de atuação.

Imaginemos a reação de várias pessoas à seguinte frase: "Tenho um monstro debaixo da minha cama!"

Há aquela pessoa que vai sempre dizer "Ah não te preocupes os monstros geralmente são inofensivos e queridos, não te preocupes demasiado!"

Há a outra que vai logo reagir "Que horror, eles nunca mais se vão embora e são chatos e são maus! O que te havia de acontecer!"

Temos ainda o tipo de pessoa que nos dirá "Desde que te sintas confortável com ele debaixo da cama, não há problema. Tens é que te sentir bem com isso."

Claro que existe ainda o outro que nos dirá imediatamente " Monstros não existem! Ouve, deixa-te disso e preocupa-te com o que realmente é importante. Monstros! pffff"

E é mesmo engraçado como estas reações se repetem de forma idêntica em diversas situações, são como que uma linha condutora que nos permitem à partida saber logo o que esperar de cada indivíduo. 

Passou um mês

Passou um mês desde de que apanhámos o nosso grande susto, se passou um mês o Francisco já tem mais um mês de gestação do que tinha na altura. Passaram 4 semanas, ou mais ou menos 30 dias e a verdade é que nestas situações todos os dias contam e todos os dias são mais uma vitória. 

E estas são aquelas pequenas vitórias que fazem de um conjunto de pessoas com parentesco uma família em todos os sentidos. Sinto que estas vitórias são do Francisco mas também são dos manos, por toda a compreensão e paciência, por todos os mimos e atenção que têm dado a esta gravidez. Parecem perceber que apesar de lhes estar a tirar muito, esta gravidez, lhes vai dar muito mais do que aquilo que conseguem imaginar. 

Esta tem sido também uma vitória do pai, que de repente passou a super-pai; reorganizou horários; centrou-se mais na família; passou a ser cozinheiro; responsável pelas máquinas de lavar roupa, louça e afins. Uma vitória do pai que para rodopiar à volta da mãe e dos filhos não tem férias desde do início do ano, mas tudo tem aguentado estoicamente, sem um único lamento. 

 E por fim esta é também uma vitória minha, que apesar de não me estar a revelar a melhor incubadora deste mundo tenho feito os possíveis e impossíveis para manter o Francisco tranquilo. 

 Foi assim que chegámos às 28 semanas e que entramos calmamente no terceiro trimestre de gravidez...

Hoje apetece-me ouvir isto

To aqui 
No silêncio do apartamento 
Esperando você chegar 
De sacola 
Com as coisas Coisinhas 
As compras do mercadorama ma 
P'ra criança que vai acordar 
E cerveja que não vai gelar 
Nesse freezer 
Numa noite tão quente 
Bacana e com pizza 
Eu e você e o bebe 
A chorar Bua bua bua bua bua 
Sem parar Bua bua bua bua bua 
E o bebe Bua bua bua 
Por isso eu.. To aqui….

Osga

Este belo espécimen parece-nos que terá vivido connosco durante o último Inverno. Não se assustem, já decidiu deixar-nos, embora me pareça que se terá arrependido pois não nos larga a janela! O Manuel adorou-a a fartou-se de lhe por o dedo em cima, do lado de cá da janela, e ela não me pareceu minimamente incomodada. Certamente estará habituada a ouvi-lo e vê-lo passar, afinal foi a nossa osguinha de estimação durante quase um ano!

Ok, não tenho bem a certeza de que tenhamos partilhado a casa com ela durante o Inverno, mas tudo indica que sim. 

No ano passado, talvez no princípio do Outono, estávamos eu e o B sentados na sala a ver televisão quando vimos um réptil passar rapidamente à nossa frente. Saiu de debaixo do nosso sofá e correu para o móvel da televisão. Na altura deslocámos o móvel, procurámos, procurámos e não encontrámos nada. Tinha quase a certeza que seria uma osga, mas como a minha grande amiga bióloga já me tinha dito que o fato de se dizer que as osgas são venenosas é apenas um mito rural, acabei por me esquecer. Nunca mais me lembrei do dito animal até que numa tarde de fim de Primavera o meu pai a viu na minha janela, mas do lado de dentro! Percebi logo quem ela era e apesar de a querer fora de casa não quis nem por nada vê-la morta, afinal tinha-se portado tão bem durante o Inverno (percebi agora que deve ter hibernado)! Bem, ela voltou a fugir e nunca mais ninguém a viu. Até hoje, hoje de manhã apareceu do lado de fora da janela e eu acho que ela gostaria de voltar a entrar. Mas na verdade acho que a nossa amiga osga precisa de ser independente e de se fazer à vida! Foi "bom" enquanto durou mas está na hora de crescer e procurar a sua própria casa, não vos parece?!

I Didn't Know I Was Pregnant

Estou completamente fascinada por este programa. Mulheres que descobrem que estão grávidas apenas no momento do parto. É assustador! Para mim que tenho sintomas de gravidez a partir dos primeiros dias tudo isto me parece muito estranho... Mas a verdade é que são histórias reais bastante convincentes! 

Há de tudo, gravidezes sem sintomas, barrigas que praticamente não crescem, testes de gravidez falsos negativos e até bebés a nascerem na sanita!

Enfim... faltam-me ocupação não é?! Assim é a minha vida de grávida em repouso! 

Manif

Nunca em toda a minha vida fui a uma manifestação. Nunca calhou, nunca me senti tão envolvida numa causa que me apetecesse ir para rua lutar por ela dessa forma.

Mas a verdade é que no sábado só não vou à manifestação "Que lixe a Troika" porque não posso sair de casa. Não concordo com o nome da manifestação, mas concordo com o seu propósito.

Neste momento é essencial que este país de brandos costumes se faça ouvir. Vemos os nossos ordenados ao fim do mês a diminuir; vemos os nossos amigos a perderem os empregos. Deixámos de perceber se existe uma luz ao fundo do túnel  e perder a esperança é sempre o pior que pode acontecer.

Se no sábado algum de vós for, por favor que me represente!

Before Midnight

O meu filme de amor preferido de todos os tempo é o "Antes de amanhecer", sem dúvida, posso ver muitos outros mas este, nesta categoria é imbatível! Lembro-me perfeitamente de quando o vi pela primeira vez e com quem estava. Foi no Auditório da Biblioteca de Grândola, a minha sala de cinema na adolescência. Umas paredes que se falassem... hum... que se falassem tinham que ser amordaçadas! Tenho a certeza que todos os grandolenses na casa dos 30 anos sente o mesmo! Aquela sala de cinema faz parte da nossa historia.

Mas voltando ao essencial, lembro-me perfeitamente que estava com a Sara e adorei este filme. Era a história de amor que encaixava perfeitamente no imaginário de qualquer jovem... uma viagem de comboio pela Europa, conhecer um estranho e apaixonar-se!




Quando soube que iam fazer uma sequela deste filme fiquei entusiasmadíssima. "Antes do pôr-do-sol", fantástico! Vamos saber se se voltaram a encontrar, como foi, como estão. Claro que também me lembro que convenci o Hugo e o Miguel a irem comigo ao cinema, expliquei-lhes tudo sobre o "Antes de Amanhecer" e lá os levei ao cinema King. Lá encontrámos a Sónia e o Pedro, um casal que pela sua história, na altura recente, assim como a Céline e o Jesse poderiam inspirar qualquer história de amor! Que coincidência!

Este era um filme que espelhava outra realidade, mais adequado a jovens com 20 e tal anos, mais perto dos 30, ainda meio perdidos mas mais maduros. Ainda sem saberem bem o que queriam mas com algumas certezas acerca daquilo que não queriam.

Este, claro, tornou-se o meu segundo filme de amor preferido de todos os tempos!



Bem, posto isto podem imaginar como fiquei entusiasmada por saber que em 2013 vai chegar o "Before Midnight". Imperdível! Sem margem para dúvida! Já me estou a ver deixar os miúdos em casa da avó e a fazer de uma ida ao cinema um programinha romântico! :)

Deixo-vos a primeira imagem do filme!


Dolce fare niente... or not!

Estou cansada de estar em casa...

Estou naquela fase em que estou simplesmente cansada de não fazer nada. O problema é que, se quisesse, teria tanta coisa que poderia fazer mesmo sem me mexer muito... mas acho que é normal, passar por uma altura em se deixa a letargia tomar de nós.

De qualquer das formas aqui fica a minha promessa de combater este bicho mau! Vou tentar criar rotinas e atividades produtivas ou que simplesmente me façam aproveitar o tempo de outra forma! 

E com esta declaração me comprometo a escrever diariamente no blog! :) Uiiiii

Livros do hospital - parte I

As últimas duas semanas foram férteis em leituras. Consegui finalmente terminar o "Gente Independente", livro que se arrastava há meses na minha mesa de cabeceira e que por falta de tempo e excesso de sono não tinha fim à vista. É livro sem dúvida interessante e que cuja história se passa num país que sempre quis muito visitar, a Islândia. A narração conduz-nos pela vida de um "homem independente", o o Bjartur, que é obcecado pelas suas ovelhas, a fonte da sua independência.
 
É um livro pesado que fala de pessoas e de vidas tristes, e que nos transporta para a vida difícil numa Islândia rural de há mais de 100 anos atrás. Mas que nos marca exactamente por tudo isso, pelo orgulho daquela gente, pela independência que faz deles homens livres, pelas fantásticas descrições e por toda a envolvência política de uma Islândia em desenvolvimento.
 
Deixei-me levar completamente pela Ásta Sóllilja, a filha de Bjartur, pela sua inocência, pela sua adoração pelo pai e sobretudo pela sua adolescência difícil de uma menina quase mulher que cresce sozinha.
 
Este é um livro pesado em todos os sentidos, denso, um livro grosso e de letras pequeninas, mas que sem dúvida vale a pena ler, até porque não fosse ele uma obra-prima da literatura do século XX, escrita pelo Prémio Nobel Halldór Laxness.

Amigos

Há pessoas que nos fazem tão bem! Amigos que pela sua maneira de ser tranquila e ponderada parecem saber sempre o que dizer na altura certa. Amigos que fazem aquela pergunta que precisamos que alguém nos faça, para que possamos responder com aquilo que nos vai na alma e que precisa de um pequeno impulso para deixar de ser só nosso e de nos pesar no coração.
Eu não sou uma pessoa naturalmente “lamechas” e enquanto estive no hospital fugi a “a sete pés” dos telefonemas que sabia que me poderiam, pela natureza das pessoas que os faziam e ainda que sem intenção “puxar para baixo”. Detesto a conversa fácil do “vai correr tudo bem…” e do “e tu como é que estás? já estás farta do hospital?”, e quando tudo isto é dito naquele tom complacente, amoroso e cheio de pena, aí então é que me tira do sério… e que me perdoem estas pessoas, que eu sei que o fazem cheias de boa vontade.
Estes amigos da “palavra certa na hora certa" são raros, e não digo com isto que sejam melhores amigos ou mais preocupados que os outros, são apenas pessoas que pela sua sensibilidade conseguem chegar melhor até nós em alturas difíceis. São amigos dos quais só sentimos “good vibes”, amigos que nos deixam ainda mais positivos do que o que estávamos antes de atendermos o telefone. Obrigada!

Miracles do happen!

Não sei o que passou, não sei como aconteceu mas como diz o médico relativamente à rutura de membranas que me causava a perda de líquido de amniótico: “Que fechou, fechou!” Não era expectável e, como me disseram, foge à norma.

Quero crer que estará relacionado com a corrente de energia positiva que senti à minha volta mas também com aquilo que consegui alimentar em mim. Não falo de esperança, não era isso que eu tinha ou sentia, era certeza, uma certeza inabalável de que o Francisco não ia nascer agora, era uma certeza que me dizia que o Francisco ia nascer na altura certa e que vai ser saudável e feliz.

A dada altura tive receio de parecer tontinha e não querer encarar a realidade… os médicos sugeriram-nos que fôssemos conhecer equipa de Neonatologia e que o B fosse ver os bebés nas incubadoras e perceber o que significava cada um daqueles fios que os prende à vida. Decidi que não queria conhecer a equipa, não queria ouvir falar dos riscos, aquilo que sabia chegava-me para viver o presente. Nada me poderia preparar para algo que nem se sabia se iria acontecer e que seria o nascimento prematuro do Francisco. Não quis falar com a equipa e disse ao B que me parecia desnecessário que o fizesse. Felizmente ele concordou e “afastámos de nós esse cálice”.

E agora aqui estamos, em casa, cheios de esperança no futuro e nas coisas boas que ele nos reserva!