Por entre palmeiras

Caminhavam juntos no parque, mão na mão. Caminhavam em silêncio. Não havia muito a dizer. O papel acabado de chegar falava por si. Tinha sido mobilizado para Angola. 

"Devíamos ter dado o salto antes de o chamarem..." - Pensava ela.

"Raios... porque é que não nos fomos embora enquanto podíamos?!" - Pensava também ele.

"Será que ele me vai pedir que vá com ele para o Ultramar?"

"Se calhar casávamos já e leva-a para lá... vivia com os meus Tios mas sempre estávamos juntos ao fim-de-semana..."

"Se ele me pedir aceito..."

"Não tenho coragem... não se faz... levá-la para longe dos pais e da irmã..."

- Eu vou mas volto! - disse ele.

- Eu espero por ti... - disse ela.

E assim continuaram, a caminhar juntos por entre palmeiras.

De pés em pés

De pés em pés a professora olhava atenta... um, dois, três... marcava o ritmo.

As meninas, de cabelo apanhado atrás, pés descalços, maillot e tutus cor-de-rosa, estavam entusiasmadíssimas. Era a primeira aula. Era a primeira aula mas elas ansiavam calçar as sapatilhas. Queriam saltar no ar e voar como borboletas.

As suas mães assitiam orgulhosas. Aquelas crianças eram uma extensão de si próprias, iriam ser as bailarinas que as mães sonharam mas nunca foram. As meninas espelhavam a infância que elas queriam ter tido. Estas mães sonhavam com o Lago dos Cisnes e com o Quebra-Nozes.


A verdade é que a maior parte destas meninas não chegará a dançar em pontas. Cansam-se e querem experimentar natação, judo ou ginástica.

Mas para estas mães este primeiro momento já as encheu de orgulho e já valeu por tudo!

O meu Avô

Aqueles que conheciam bem o meu Avô sabem que ele adoraria ter estado entre nós num dia como o de hoje. Teria conversado com todos os seus amigos, muitos deles “moço da sua idade”, como ele nos dizia sempre, outros amigos dos meus pais, meus e do meu irmão. O meu Avô adorava estar com pessoas, conversar e contar-nos as histórias divertidas que passou com cada um dos seus amigos. Estou certa de que o meu Avô já não habita este corpo que está aqui à minha à frente. O meu Avô passou as últimas 24 horas a fazer tudo aquilo que ele mais gosta e são tantas coisas, não sei se já teve tempo para tudo. O que sei foi que ele voltou a ter mãos para trabalhar e umas pernas que já lhe respondem quando ele pede e isso é para ele muito importante. O meu Avô agora já pode sair à vontade e de certeza que se sente tão livre…


Por esta altura o meu Avô já deve ter ido à pesca e de certeza que apanhou um daqueles grandes linguados que ele antigamente trazia para casa; já deve ter lido os jornais do dia e conversado um pouco sobre o seu Benfica. Sei que esta noite ele irá certamente ligar a televisão, ou melhor ainda, para recordar os velhos tempos, vai ao cinema, ver um filme de cowboys, daqueles que ele conhece tão bem os actores e nos contou várias vezes o enredo. O meu Avô já deve ter tido tempo para ler os seus livros e ir arranjar o quintal, trabalhar na sua horta… Arranjar esquentadores e montar e desmontar fios eléctricos. Sabem que o meu Avô conseguia ensinar periquitos a falar? Eu própria cheguei a conhecer um que assobiava tal e qual como o meu Avô, dizia “Benfica” e “Maria” – o nome pelo qual ele tratava a minha mãe.


O meu Avô devia ter escrito um livro com todas as histórias que ele tinha para contar… sempre me ri muito ao imaginá-lo um miúdo de calções a pregar partidas à mãe. Acreditam que ele apanhava lacraus, tirava-lhes o veneno com um dente de alho e os metia na cabeça, escondidos por um chapéu? Depois soltava-os perto da mãe e das amigas da mãe. Diz que aí é que era vê-las fugir e saltarem para cima das cadeiras. Ai… como ele se divertia a recordar estas histórias…


É assim que eu quero que o recordemos, porque era esta a pessoa que o meu Avô era. O meu Avô nunca teve grande facilidade em demonstrar sentimentos, mas está neste momento, de certeza com um olhar muito atento a espreitar-nos, à sua família e aos seus netos e bisnetos, de quem tanto gostava. 


Termino como comecei: o meu Avô gostaria muito de ter estado entre nós num dia como o de hoje, em que os seus amigos e família se juntaram. O meu Avô não queria que perdêssemos demasiado tempo a chorar, gostaria que conversássemos e contássemos histórias. É isso que acho que temos que fazer e foi por isso que vos quis falar.

Pequenos consertos

Arranjam-se máquinas de lavar roupa.


Descobri ontem lá em casa um técnico perdido e estou disposta a "pô-lo a render". 


Taxa mínima de mão-de-obra 25€ por hora. 


Aconselhamos o pedido prévio de orçamento pois o trabalho, apesar de muito bem feito, pode prolongar-se por horas e horas e horas...

Paraíso alentejano

Com tanta publicidade ainda nos estragam as praias!


Vejam aqui o vídeo.

Primeiro beijo





O meu foi péssimo! :) E o vosso como foi?!

Mãos

Toda a vida teve umas mãos rudes, de trabalho. Umas mãos calejadas, de pele grossa e encardida pelo tempo e pelo trabalho. Eram umas mãos daquelas em que qualquer corte parecia não conseguir fazer sangue, das que apanham urtigas sem se queixar. Mãos deformadas pelo reumático e pelas artroses. 

Mas a vida e a doença levaram-lhe essas mãos. Levaram-lhe essas mãos que encerravam em si tantas histórias. Tem agora umas mãos que não trabalham, de unhas limpas e de pele lisa e fina. Hoje em dia as suas mãos parecem sucumbir a qualquer golpe que surja. São agora umas mãos magras, delicadas e que se apoiam nas nossas para continuar. E é assim que o levamos agora e o arrastamos para a vida, de mãos dadas nas nossas...

Museum of me

As redes sociais são para muitos o espelho das suas vidas. É assim que comunicam e se fazem notar. Nas redes sociais somos quem queremos ser, mostramo-nos ao outro como queremos ser vistos. Bisbilhotamos a vida do amigo e abrimos-lhe o véu para a nossa vida. Deixamos mensagens subtis que só aquela pessoa sabe decifrar (pensamos nós), dizemos o que pensamos e afirmamo-nos. Confiamos nas redes sociais para nos lembrarem do aniversário dos nossos amigos. Vamos lá confirmar se o bebé da nossa amiga já nasceu e se já existem fotos do rebento. Nas redes sociais somos amigos de todos, mesmo daqueles com que já não falamos há muito, mesmo daqueles que não vemos há décadas.

Deixo-vos dois links interessantes. O documentário Cat Fish, é mais longo mas vale a pena.


E um link para uma aplicação fantástica, onde devem fazer o login através da vossa conta Facebook, Museum of me.