Que canseira...

Quando tinha apenas um filho sentia-me tão cansada, sentia que apesar da felicidade enorme que era ser mãe os meus dias eram super cansativos. 

Quando passei a ter dois filhos achei que até não era assim tão complicado.Punha o Manuel cedo na cama, ainda tinha cerca de hora e meia para me dedicar totalmente à MR e apesar de ser preciso alguma ginástica para coordenar horários, tudo se fazia.

Agora que tenho três filhos percebo que o cansaço se apoderou definitivamente de mim, um cansaço mental mas sobretudo físico. Sinto-me cansada por estar constantemente a ser solicitada pela MR para mais uma história e sinto que a imaginação se me acaba (e quem me conhece bem sabe que para isso acontecer eu tenho que estar mesmo esgotada), cansada de pensar no que vou fazer para o jantar e cansada de andar como Francisco ao colo,com o Manuel ao colo e com os dois ao colo ao mesmo tempo, cansada dos banhos,dos jantares e das horas de ir para a cama. Não consigo ficar acordada até depois das dez, se me sento no sofá os olhos fecham-se,é inevitável.

Hoje, apenas com um filho a cargo, os dois mais velhos estão desde ontem com os avós,sinto-me em lua de mel comigo própria,com tempo e disponibilidade mental para voltar a escrever, sem a pressão das horas tudo parece mais fácil. Percebo agora que ter apenas um filho é tão tranquilo...

Ai... mas sinto tanta falta dos outros dois! Já telefonei e voltei a telefonar, perguntei por onde andavam, o que estavam a fazer e se tinham saudades. Se me sabe bem estar assim, sim porque de vez enquando sabe e faz bem, por outro lado este circulo familiar só está completo quando estamos os cinco. Mesmo cansada, estafada e de rastos...

Salvos pelo Amor

Numa entrevista ouvi a Diane Keaton dizer que nós os humanos somos salvos pelo amor e essa expressão ecoou-me dentro do peito e de repente fez-me todo o sentido... Salvos pelo Amor...

Li há pouco tempo esta notícia, acerca de um bebé prematuro, de 27 semanas que foi salvo, exactamente pelo amor, pelo amor de uma mãe que não aceitou a sua morte e que, certamente por milagre da natureza, o trouxe de volta à vida.

Tudo isto me transportou para a Ana Sofia, uma bebé de 25 semanas que ao nascer com 24, pode muito bem ter sido salva pelo amor que os pais já lhe tinham,ainda antes dela nascer. Embora a mãe ainda não tenha consciência desse facto o seu nascimento prematuro foi um acto de amor e uma vontade desesperada de a salvar (o não nascimento significaria uma morte, muito mais prematura que o seu nascimento). A mãe da Ana Sofia foi ela também "vítima" do imenso amor do marido, que passou dias a fio à sua cabeceira, a transportá-la de médico em médico, a correr a meio da noite para o hospital (onde por vezes só a podia ver da janela, tal Romeu e sua Julieta) e a envolvê-la neste sentimento basilar que é o amor.

Deixarmo-nos abraçar pelo amor que os outros nutrem por nós é um processo fundamental na cura. Abrirmo-nos aos que nos amam, sentirmo-nos diariamente agradecidos por termos amor nas nossas vidas é essencial para nos pacificarmos connosco e com os outros. O amor não é obrigatório, não é instintivo e não é inesgotável.  E termos noção destas premissas é meio caminho andado para ele se torne voluntário, consciente e infinito. 

Por vezes não é fácil deixar-nos ir, é preciso uma confiança extrema em nós próprios e nos outros para nos entregarmos ao seu amor. Mas é isso que um recém-nascido faz, entrega-se completamente ao amor dos pais, ele é a mãe e a mãe é ele e é assim durante os primeiros meses de vida. São apenas um, vêem-se e sentem-se como um, num amor que é maior que a vida. Quando crescemos essa entrega é-nos mais difícil e por vezes parece até doer, mas é essa mesma entrega que, por mais antagónico que pareça depois nos torna livres, que nos dá asas e nos salva. E essa entrega é sem dúvida o amor.