Acordo ortográfico

Este blog rendeu-se e vai começar a escrever, ou tentar escrever, ao abrigo das regras estabelecidas no Acordo Ortográfico de 1990 e posteriores protocolos modificativos. 

Apesar do acordo aterrar muito boa gente, a mim não me choca, não me parece uma afronta à língua nem ao nosso passado histórico, cultural e literário. A língua é como tudo na vida, evolui, modifica-se e adapta-se aos novos tempos.

Felizmente hoje em dia já não falamos como no século XV não é?


Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom Fernamdo
Quamdo foi sabudo pello reino, como elRei reçebera de praça
Dona Lionor por sua molher, e lhe beijarom a maão todos por Rainha, foi
o poboo de tal feito mui maravilhado, muito mais que da primeira; por
que ante desto nom enbargando que o alguuns sospeitassem, por o
gramde e honrroso geito que viiam a elRei teer com ella, nom eram
porem çertos se era sua molher ou nom; e muitos duvidamdo, cuidavom
que se emfa daria elRei della, e que depois casaria segundo perteemçia
a seu real estado: e huuns e outros todos fallavam desvairadas razõoes
sobresto, maravilhamdose muito delRei nom emtemder quamto desfazia
em si, por se comtemtar de tal casamento.

*excerto da Crônica de D. Fernando de Fernão Lopes


"entrada e saída de viaturas"

Ai se a curiosidade matasse... bem, eu certamente estaria "morta, matada, morrida", como dizíamos quando éramos miúdas! Sempre fui curiosa, faz parte de mim. Esta vontade de saber mais acompanha-me desde que nasci. Na ponta da língua sempre estiveram o porquê?, como?, quando?,para que serve?, posso abrir o presente?, para quem é?, o que está lá dentro? Enfim, uma curiosidade saudável mas aguçada!

E aquele portão... ai, aquele portão dava cabo de mim... estava sempre fechado. Ninguém entrava, ninguém saia... Estava arranjado, bem pintado, com uma barra alentejana de um azul turquesa que enchia o olho e com uma cortina da mesma cor no postigo. E era exactamente abaixo do postigo que tudo se complicava na minha cabeça. 

Como é que um portão com aquele ar de casa de bonecas depois tinha uma placa que nos transmitia a seguinte mensagem PROIBIDO ESTACIONAR - entrada e saída de viaturas.
Adorava conseguir espreitar lá para dentro, tinha a certeza que encontraria uma bicicleta cor-de-rosa com um cestinho à frente, ou até mesmo uma Famel decorada com autocolantes floridos e um capacete de menina a acompanhá-la. Sim tudo menos um carro, que por ali não conseguiam passar veículos de quatro rodas.


Mas o portão nunca se abriu e eu nunca percebi o que escondia; quem lá vivia e que tipo de viatura conduzia.

Enfim, o "número 9 azul turquesa" foi para dentro da minha caixa de curiosidades por resolver. Está lá juntamente com "o que é que estava dentro daquele embrulho fantástico que a Sofia levava na mão naquela noite de verão em que fomos ao jardim", com "o que se esconde dentro de todos aqueles baús antigos guardados no sótão", e com outras tantas outras curiosidades ainda, e talvez para sempre, por resolver.

*foto do Buscassóis