O Verão chegou!



Na Primavera o amor anda no ar.
Na Primavera os bichos andam no ar.
Na Primavera o pólen anda no ar
E eu não consigo parar de espilrar.


No Verão os dias ficam maiores.
No Verão as roupas ficam menores.
No Verão o calor bate recordes
E os corpos libertam seus suores.


Eu gosto é do Verão
De passearmos de prancha na mão.
Saltarmos e rirmos na praia
De nadar e apanhar um escaldão.
E ao fim do dia, bem abraçados
A ver o pôr-do-Sol
Patrocinado por uma bebida qualquer.


No Outono a escola ameaça abrir.
No Outono passo a noite a tossir.
No Outono há folhas sempre a cair
E a chuva faz os prédios ruir.


No Inverno o Natal é baril.
No Inverno ando engripado e febril.
No Inverno é Verão no Brasil
E na Suécia suicidam-se aos mil


E ao fim do dia, bem abraçados
A ver o pôr-do-Sol
Patrocinado por uma bebida qualquer.
Patrocinado por uma bebida qualquer.
Qualquer.


Fúria do Açúcar

Um mundo perfeito!

Coração nas mãos

E quando alguém nos agarra na criança perguntando:

- "Posso pegar-lhe?! Já tenho saudades de pegar em bebés tão pequeninos... Anda cá lindo!"

- "Ahh, sim, claro" - Disse eu com o coração nas mãos... Mal conhecia a senhora, mas é prima de uma prima, não tinha ar de louca... enfim... estávamos num ambiente controlado e teria que arranjar uma boa desculpa para dizer que não. Também, que mal poderia acontecer?!

Talvez tenha sido a meia hora de maior ansiedade desde que ele nasceu. Tentei nunca o perder de vista, mas de repente desapareceu-me para a cozinha. Ai... já eu ia a caminho e a pensar numa bela desculpa para os seguir quando reapareceram. Depois como por magia "escondeu-se" com a criança atrás de uma coluna na sala e os meus olhos procuravam e procuravam, tentando não parecer uma mãe galinha e desesperada, mas não os encontrava! Levantei-me, ahhh... ali estão... que sufoco! Tentei por duas vezes aliviá-la do peso que uma criança de quatro meses já tem, tentei dar-lhe espaço para ir comer bolo, mas nada... não o largava!

Quando finalmente tive de novo o meu filho nos braços, apareceu a mãe dela:

-"Posso pegar no bebé? Tão lindo! Que saudades de bebés pequeninos!"

- "Ahhhhhhhhhhhh............. socorrro!" - Gritei eu para dentro em desespero.

Para lá da porta

Tinha 7 anos acabados de fazer e passava o tempo a sonhar acordado. Sonhava que viajava em carros voadores, que lutava contra dragões e acordava princesas adormecidas. Sempre tive uma imaginação fértil, fecunda em personagens fantásticas: cães falantes, artistas de circo, pilotos de formula 1 e feiticeiros. Apesar de ser filho único nunca me senti só, na minha mente pululavam amigos imaginários.

Naquele dia vinha já atrasado e corria pela estrada afogueado, quando de repente vi aquela porta. Parei. Sei que os carros vinham depressa e me buzinavam. Senti-me a cair. Fui invadido por um calor imenso, depois por um frio polar. Levantei-me e caminhei na sua direcção. Toquei levemente no vidro, parecia um espelho de água. Passei a mão para o lado de lá e senti uma temperatura agradável, convidativa. Mas detive-me, resolvi não entrar. Sentei-me e assisti a uma cena de filme:  todos os meus amigos imaginários caminhavam, falavam, riam e pareciam convidar-me a juntar-me a eles. Como a Alice seguiu o coelho também eu me senti tentado a segui-los. Mas de repente apareceu uma personagem estranha à minha mente, que montava a cavalo e me perguntou:

Foto de Buscassóis - Maio 2011

- Não estás atrasado? António! Ainda há muito por fazer...

Acordei já na ambulância... resultado: uma perna partida em três sítios e um valente susto para o condutor que de repente me viu saltar para a frente do seu carro.

Desde esse dia que sempre que olho para uma porta de vidro o vejo lá... bigode e chapéu de festa e o cavalo engalanado. Agora que cresci e já mandei embora todas as personagens eles continuam por aqui. Acompanham-me calma e tranquilamente, parecem ser a minha sombra e zelar pelo meu bem-estar... 


RV

Estamos em directo para a RTP minha Srª...

Já há uns tempos tinha dado a minha opinião sobre as entrevistas em directo televisivo mas não me aguento e cá vai de novo... não há "pachorra"!

O jornalista corre para entrevistar quem não quer ser entrevistado; quem não quer aparecer na televisão; quem  não tem nada a dizer sobre o assunto ou simplesmente tem vergonha de expor publicamente a  sua opinião. 

De vez enquando lá aparece uma ou outra pessoa que diz alguma coisa com sentido, mas geralmente as contribuições são sempre muito pobres.

Não tenho paciência para estes programas, incomodam-me até ao tutano!

Que os há, há! São vermelhos e suculentos.

É a Francisca que faz as compras lá para casa. Geralmente ao Sábado de manhã aproveita que os miúdos ficam com o João, que os leva ao parque no seu momento semanal de pai e filhos e vai ao mercado.

Foto de Buscassóis - Maio 2011
Esta ida ao mercado transporta-a para o quintal dos seus avós. Quando era pequena passava as tardes com eles. Adorava ajudar o avô a tratar da horta, arrancavam as pequenas ervas que iam crescendo (jura que um dia chegou a encontrar um trevo de quatro folhas!) regavam e apanhavam as couves, a salsa e os coentros, os tomates, os morangos... ai os morangos... enfim, a diversidade dependia da estação do ano. Nunca tinha percebido como é que um pedaço de terra tão pequeno conseguia ser tão fértil. Tinha para si que isso só acontecia por causa do amor que os avós dedicavam àquela terra.

Tempos que já lá vão... os avós já partiram, a casa vendeu-se e a Francisca nunca mais lá voltou. Para recordar resta-lhe apenas a ida ao mercado no sábado de manhã e todas as memórias daqueles tempos.

A Francisca já conhece os vendedores e eles já a conhecem a ela. Na banca da D. Maria costuma comprar a abóbora, as cenouras e as batatas; na do Sr. Zé as maçãs, peras, bananas e mais alguma fruta; há ainda a banca da Florinda peixeira, que esta semana lhe amanha um belo Robalo para assar no forno. Mas quando chega a Primavera onde a Francisca gosta mesmo de ir é à banca da D. Estrela, tem os melhores morangos do mundo... pequenos, muito vermelhos e deliciosos.

Quando chega a casa a Francisca já sabe como vai ser, a chuva já se foi embora, os dias de sol são cada vez maiores e os miúdos lembram-se todos os anos da mesma brincadeira. Os dois correm para os seus braços e perguntam-lhe com os olhos a brilhar:

"E morangos Mãe?! Já há morangos?!"

"Hum... - responde a Francisca - Que os há, há! São vermelhos e suculentos. Mas... e vocês merecem?!"

Inevitavelmente, depois de um ataque de cócegas, muitos beijinhos à mistura, e muitos "Sim mãe, claro que merecemos!" acabam os três na cozinha a preparar o almoço e a devorar morangos!

Para ti...

A vista da Janela

Para quem não vivia ali no bairro aquela era apenas mais uma janela.

Foto de Buscassóis - Maio 2011
Para os que viviam, aquela era a janela da Rosinha. Moça nascida e criada por ali, naquela casa. Era naquela janela que a sua mãe, em tempos idos, namorava com o seu pai. Era naquela janela que a mãe lhe lia as cartas do pai, quando ele esteve no Ultramar. Rosinha era bebé, não se lembra, mas ouviu esta história da boca da sua mãe vezes e vezes sem conta... foi também naquela janela que a mãe recebeu a triste notícia... o pai da Rosinha tinha morrido na Guiné. 

Mas aquela janela encerrava em si tantas outras recordações, tantos outros momentos. Era ali que Rosinha fazia os seus trabalhos de casa e era ali que a Maria, a São e a Luísa a iam buscar para a levarem para o largo da igreja e saltarem ao elástico até o sol se pôr.

Foi também naquela janela que a Rosinha chorou a morte da mãe e ficou responsável por si própria. Foi ali que colocou a sua máquina de costurar Singer e se tornou modista como a mãe tinha sido.

O que poucos sabem é que para o António aquela não é apenas mais uma janela. Aquela é a a janela da ROSINHA. Para o António aquela é a janela onde a Rosinha põe o vaso de flores vermelhas para lhe dar o sinal... o sinal de que pelas onze da noite a porta estará encostada e o convidará a entrar...

A vista da janela

Foto de Buscassóis - Maio 2011
Depois de algumas propostas para participar, surgiu um desafio ao qual não posso fugir. Assim, não só andarei por aí, como passarei por aqui de vez em quando. Fui atirado às cordas e não me restou outra alternativa a não ser aceitar esta empreitada. Não sou de fugir e por isso, apesar da falta de perícia, por aqui verão passar o produto daquilo que julgo estar ainda a dar os primeiros passos. Veremos se com o tempo o produto melhora… e veremos com o tempo a resposta do Girassol!
Hoje, aqui fica “A vista da janela”!