Zangas dos manos

MR - Manuel!!!! Não gosto mais de ti! Não fazer isso assiiiiiiimmmmmmmm! (choro)

Manuel - Gotas sim!!! (completamente indignado)

MR - Sim gosto [como se não fosse nada com ela], mas não pode seeeeeeeerrrrr!!!! (e continua a choramingar)

Calor de Outono

A minha amiga foi-se embora. Foi-se embora e não despedi dela, foi-se embora e não tivemos tempo para dizer "Até já".
 
Era a minha amiga mais próxima, a "amiguinha" (como nós costumávamos dizer). Foram 15 anos de cumplicidade e de uma empatia imediata. Era uma das pessoas a quem no ISCTE, ainda antes de nos conhecermos, eu dizia sempre "Olá" ou a quem esboçava um sorriso nos corredores.

Eramos tão diferentes... mas essa diferença complementava a nossa amizade. Ela adorava bolinhas e sapatos com berloques, eu detesto ambos. Ela não tinha paciência para formatar documentos e pô-los bonitinhos, com espaçamentos e tamanhos de letras xpto. Era eu que por vezes lhe fazia esse trabalho. Ela adorava livros e o cheiro dos livros trazia-lhe sempre recordações de um qualquer momento passado, escrevia nos livros, apontamentos feitos à margem da página, já eu, que também gosto de livros, adoro gadgets e já não passo sem o meu e-reader.
 
Ela era de uma inocência que por vezes dava vontade de rir, muito ansiosa e super curiosa e interessada por tudo o que a rodeava. Sempre a querer saber mais e mais, era muito trabalhadora e tão inteligente... Adorava dançar...

Partilhámos casa, amigos, desgostos de amor e os amores da nossa vida, partilhámos dores que nunca esperámos que nos assolassem e expectativas, expectativas que se concretizaram e algumas que foram embora com ela. Assim como foram algumas das confissões e partilhas que fizemos...
 
Os últimos meses quebraram-nos as rotinas, deixámos de falar diariamente no Messenger, parámos com os almoços que tentávamos sempre que fossem semanais (apesar de nunca o serem), acabaram com os telefonemas tontos, sobre assuntos tontos mas que nos faziam rir. Mas apesar disso estávamos ali uma para outra, a fazer um stand-by numa vida que ela iria retomar em breve, que a maldita doença queria mas que, pensava eu, nunca iria conseguir roubar.

Durante 15 anos fomos uma presença constante na vida da outra e agora a minha amiga foi embora. A doença ganhou e levou-a e deixou-me a mim a morrer de saudades...