Hospital D. Estefânia

Mães com crianças doentes ao colo que não se inibem de ir espreitar o bebé, sem se preocuparem com os vírus que lhe podem estar a espalhar por cima:

"Tão pequenino, deve ter o quê? Um mês?"

Enfermeiros que passam o tempo a comer numa sala de banquetes que tem na porta a seguinte placa: "Enfermeira-Chefe". Ao passar ao lado já cheira a comida e a conversa de café.

Duas casas de banho, uma para o "Pessoal" e outra para os "Utentes". A dos utentes, claro está, encontra-se avariada e a do "Pessoal" trancada.

Uma janela aberta e com o trinco avariado, isto num espaço onde as crianças já estão doentes e não precisam de mais instabilidades. Outras tantas janelas que ao primeiro vento se abrem e deixam passam chuva e frio.

Auxiliares e técnicas que dão bitaites sobre tudo:

"O bebé está mesmo doentinho... farta-se de gemer."

"Ai coitadinho, está mesmo amarelinho."

"Ah! Então o bebé chora porque tem os pés frios! Olhe para isto!"

Minha senhoras... por favor... os recém-nascidos gemem muito, para além do choro é outra das suas formas de comunicar; muitos deles têm um pouco de icterícia, nada de especial. E pés frios?!?! Por mais que se tentem aquecer as extremidades, pés e mãos, é sempre difícil e não é por isso que um bebé chora!

Técnicos de laboratório que executam apenas metade dos pedidos que lhes chegam.

Médicos que dizem: "Dê-lhe um supositório Ben-U-Ron"

"Mas Dr. - diz a mãe com ar preocupado - ontem disseram-me para não lhe dar supositórios que a dose é demasiado elevada."

"Ah... mas quanto é que ele pesa?" - pergunta o médico, sem grande consciência de que essa deveria ter sido a sua primeira pergunta.

"3,750 kg, ok, dê-lhe em xarope, bem... também lhe podia dar meio supositório." - acrescenta o Sr. Dr...

Instalações frias, assustadoras e velhas...

Enfim... uma panóplia de situações, algumas caricatas, outras perversas e eventualmente perigosas para a criança.

Mas como em todas as situações temos o lado B, aquele que nos ajuda a suportar as madrugadas e tardes passadas nestes sítios: o enfermeiro simpático da triagem que nos acompanhou sempre que possível e foi demonstrando a sua disponibilidade; a médica preocupada e que não deu alta à criança apesar de a mandar para casa, já antecipando uma segunda volta e facilitando assim a entrada; o enfermeiro que enquanto se banqueteava na sala da "Enfermeira-Chefe" dizia sempre com um ar muito simpático "Espere só um pouco mãe"; os elogios à criança, feitos por todo o pessoal do hospital (que afinal até se revelou bastante simpático e acessível) "É tão perfeitinho", "Muito tranquilo", "É tão lindo", "Tem tanto cabelo!", "Parece italiano!"* e o vigilante do parque que até nos diz: "Vá, é sentido proibido mas vá agora que não vem ninguém".

Enfim, escrevo este post a pensar na nossa amiga Calordeoutono e na sua luta contínua pelo nosso Sistema Nacional de Saúde. Isto é o que temos, no seu melhor e no seu pior!


*Dizem que os homens italianos são extremamente bonitos e charmosos, portanto este comentário foi considerado elogio.

4 comentários:

  1. Amiga,

    Que stressante que deve ter sido. Revejo-me em cada uma das tuas linhas. Nas coisas más e nas boas. Mesmo que não passemos por situações exactamente iguais, já passámos parecidas. E ainda bem que há sempre o lado B. Valha-nos isso. Arrepiei-me quando li que escreveste o post a pensar em mim. Só por isso, já vale a pena, o tempo que dedico a tudo isto. Um grande beijinho e melhoras ao nosso menino.

    CalorDeOutono

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  2. Votos de rápidas melhoras para o M.

    Se parece um italianinho, não sei, mas que é lindo, lindo, lá isso é ! :D

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  3. Espero que ja estejam melhores, beijinhos
    Sara

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