São um casal fantástico... ele tem 78 anos, ela 75. Ela chama-se Maria Amélia e ele António José. Estão casados há 55 anos, conheceram-se, enamoram-se e casaram em 3 meses... foi uma paixão fulminante, diz ele, com um sorriso no canto da boca.
"A minha Maria Amélia trabalhava na loja "Modas d'Ouro", uma boutique fina, de senhora, na Rua Augusta, e eu tinha começado a fazer "escritas" naquele mês para o Sr. Fernando, o dono. Quando entrei na Modas d'Ouro foi ela a primeira pessoa que vi. Dirigiu-se a mim e perguntou: "Posso ajudar?" Aquele sorriso desarmou-me logo ali... ela era linda, tinha o cabelo louro, encaracolado, pelo ombro e uma silhueta de manequim (ainda hoje ela cora sempre que digo isto). Não sei bem como, no meio de toda a minha atrapalhação, lá a consegui convencer a ir comigo ao Condes no sábado seguinte, ao cinema. Bem e o resto? Uma vida cheia!"
"Ai o António José parecia um actor de cinema... era tão parecido com o Van Johnson, um actor daqueles tempos e que entrava com a Elisabete Taylor no filme que fomos ver no fim de semana a seguir a nos conhecermos. Lembro-me tão bem... vimos "A última vez que vi Paris"... enfim, já lá vão 55 anos. Mas sabe, tivemos alguns momentos menos bons, como gosto de dizer, não foram maus, foram menos bons, mas tenho sido tão feliz... que não me importava que viessem mais 55!"
Maria Amélia e António José tiveram 4 filhos e já vão em 9 netos. Ela trabalhou nas Modas d'Ouro até nascer a primeira criança, depois e felizmente ele cresceu na profissão e tornou-se num requisitado e competente "contabilista" da baixa lisboeta. Ela deixou de trabalhar e dedicou-se aos filhos, depois aos netos e sempre, sempre, a ele.
É comum ainda hoje apanharmos a Maria Amélia e o António José de "mão na mão" e em troca de olhares cúmplices. Conseguiram ao longo da vida superar os problemas que foram surgindo e até o problema de saúde, tão grave, que ele teve há dois anos os conseguiu unir ainda mais.
Fizeram votos de se amarem e respeitarem: na saúde, na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe... E foi assim com este sentido de "missão" que os "obriga" a serem felizes que caminharam a par e passo durante os últimos 55 anos.
A ela, dos tempos em que se conheceram ainda lhe reconhecemos, por defeito de profissão, o bom gosto para compor a toilette - a ele a vontade de lhe agradar.
Foi assim que hoje os encontrei, ela levava um cachecol roxo e ele, claro uma gravata roxa... caminhavam lado a lado, de braços entrelaçados...
Escrito para o blog Girassois a 21/01/2010