Entrei nos Correios, a MR correu para os livros infantis dizendo:
- "Mãe, óia! Livros!"
- "Mãe, óia! Livros!"
Aproximámo-nos da estante e imediatamente sentimos em cima de nós a Beatriz, uma menina de tranças louras e olhos claros.
- "Como te chamas?!" Perguntou ela apressadamente à MR.
A Sr.ª D. MR que não vai "à bola" com estranhos assim às primeiras, encolheu-se e agarrou-se à minha perna. Respondi eu:
- "Chama-se MR. E tu?"
- "Sou a Beatriz. Estão à espera? A minha mãe já está a ser atendida."
Agarrei no livro que a MR me estendia e comecei a contar-lhe a história.
- "Sabe ler?" Perguntou-me a Beatriz.
- "Sim, sei, e tu, não sabes?"
- "Não"
- "Que idade tens?"
- "Tenho sete, mas chumbei... não sabia ainda ler nem escrever.. é melhor assim, para a frente é melhor assim! Leia-me este!"
Folheei o livro, "Beatriz este é muito complicado, é sobre o corpo humano, mais vale veres os desenhos."
Avançámos para outra estante. A Beatriz perguntou à MR:
- "Gostas mais da mãe ou do pai?! Dos dois não é?" e riu-se.
Perguntei-lhe pela mãe. Disse-me que estava lá à frente, com um amigo. Entretanto a Beatriz começa a fazer "BU" e com movimentos bruscos a atirar os livros, segurando-os com a mão, para perto da MR. Esta assusta-se, encosta as suas costas às minhas pernas e lançando os braços para trás agarra-me. Nisto, a Beatriz agarra-lhe nos pés e levanta-os, fazendo a MR cair de rabo no chão. A MR levanta-se e salta-me para o colo. A mim saltou-me foi a tampa:
- "Beatriz, já chega, vai ter com a tua mãe. Isso não se faz!"
- "Desculpe, desculpe!" - A Beatriz sentou-se num canto e lá ficou com ar triste. Reparei que a mãe chorava ao balcão e que em nenhum momento desde que chegámos olhou em volta e procurou a Beatriz, que enquanto esteve connosco esteve sempre fora do seu alcance.
Entretanto fomos atendidas e antes de sair fomos dizer adeus à Beatriz. Ela levantou os olhos do chão e disse também adeus .
Assim como a Beatriz há tantas outras crianças negligenciadas, que crescem entre pais separados; com baixos rendimentos; sem atenção e consequentemente com pouco aproveitamento escolar.
Não há muito mais para dizer. Mas há tanto por fazer...
Coitadinha da Beatriz :(
ResponderEliminarPor mais que a cola consiga unir os bocados que se vão partindo, na realidade, as marcas permanecerão para sempre visíveis.
ResponderEliminar... e mesmo quando essas marcas parecem invisíveis, um dia hão-de dar mostras de existirem...
ResponderEliminarCOutono