Estava sentada num banco de jardim. À sua volta viam-se jovens, crianças, famílias inteiras que passeavam e aproveitavam o dia de sol. Ela estava só e o seu olhar entorpecido perdia-se numa garrafa de cerveja.
Vestia-se como uma hippie. Teria 40 e tal anos, cabelo curto e calçava sandálias. Debaixo do banco, que partilhava apenas com a sua mala e um saco de supermercado, escondiam-se garrafas de bebida: duas ou três minis e uma garrafa de uma qualquer bebida espirituosa. Dentro do saco de supermercado podíamos ver gargalos e caricas que espreitavam. Sabia-se que pouco faltaria para essas também se juntarem às garrafas vazias debaixo do banco. Era só uma questão de tempo...
A forma como parecia falar com a garrafa que tinha na mão deixava perceber que aquelas não teriam sido as primeiras bebidas do dia. Estávamos no final da tarde e para si o sábado teria sido certamente muito longo...
Parecia triste, não, não bebia para se alegrar, bebia para se afundar ainda mais. Bebia porque precisava de bater bem fundo. Não se queria distrair dos seus problemas, queria recordá-los e recordá-los e continuar a recordá-los. Queria recriminar-se e sofrer pelos seus erros, por aqueles que a levaram àquela situação. Merecia-o - pensava.
E assim o mundo continuava a girar: as crianças continuavam a rir e a dar gargalhadas por tudo e por nada; os cães passeavam com os seus donos; os pais brincavam com os filhos; o benfiquista meio louco continuavam a passear-se na sua bicicleta e a ouvir a sua música e ela ali estava. Só e atormentada. E naquele sábado perfeito ninguém reparava nela, ninguém se queria incomodar, ninguém a queria ver.
Tinha-se tornado invisível...